sexta-feira, 8 de outubro de 2010

VARGAS LLOSA GANHA O NOBEL DE LITERATURA


Em mais de um século de existência, o Nobel premiou apenas 11 escritores de língua espanhola, desde que o dramaturgo espanhol José Echegaray y Eizaguirre (1832-1916) recebeu o prêmio, em 1904.

Ontem, a Academia Sueca corrigiu uma injustiça e finalmente lembrou do peruano Mario Vargas Llosa, que, aos 74 anos, vai receber o Nobel de Literatura por seis décadas dedicadas à literatura, carreira que começou com uma peça de teatro escrita aos 16 anos, La Huida Del Inca (A Fuga do Inca). Até mesmo Llosa demonstrou surpresa. "Achei que a Academia Sueca havia me esquecido", declarou ao ser notificado do prêmio. "Há muitos anos mencionou-se meu nome, mas não sabia se era sério ou não", disse Vargas Llosa, colaborador do Estado, de Nova York, onde dá aulas na Universidade de Princeton.


O escritor disse que o prêmio "é um reconhecimento à literatura da América Latina e da Espanha", revelando esperar que seus livros "tenham para os leitores uma importância comparável ao papel que Cervantes e Flaubert tiveram em minha vida". A Academia disse que concedeu o prêmio a Vargas Llosa por sua "cartografia das estruturas do poder e mordazes imagens da resistência, da rebelião e derrota do indivíduo". Llosa gostou da justificativa.

Vargas Llosa, que escreveu mais de 30 romances, peças de teatro e ensaios. Nascido em Arequipa, num vale de montanhas desérticas da cordilheira dos Andes, o escritor teve de migrar com a mãe divorciada para Cochabamba, Bolívia, onde Vargas Llosa concluiu seus estudos básicos. Só na volta ao Peru, em 1946, quanto tinha 10 anos, ele conheceu o pai, antes de ingressar num colégio militar.

Vargas Llosa tem o dom de transformar crônicas sobre a realidade peruana em fábulas morais, recorrendo a personagens que migram de um livro para o outro sem muita cerimônia, como o cabo Lituma, que saiu do romance A Casa Verde para se tornar o protagonista de Lituma nos Andes. Neste, o escritor critica o irracionalismo dos guerrilheiros do Sendero Luminoso, olhando para o medo instaurado nos povoados - seja por intimidação militar ou pelo misticismo rasteiro - como manifestação de uma mesma origem. A tradição mística dos países latinos ligada a rebelião política seria analisada em detalhes em seu livro A Guerra do Fim do Mundo (1980), épico em que exercita seu lado jornalístico com rigor, reavaliando a figura de Antonio Conselheiro e a campanha de Canudos, temas do clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha.

Seu mais recente livro é Sabres e Utopias (Objetiva), em que critica o esquerdismo de colegas escritores e faz uma análise da política e da literatura latino-americana contemporânea.

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