Torquato Tasso nasceu em Sorrento a 11 de março de 1544 e morreu em Roma, no convento de Sant'Onofrio, a 25 de abril de 1595. Filho do poeta Bernardo Tasso, realizou sua formação humanística em Nápoles, Roma, Veneza, Bolonha e Pádua, onde concluiu os estudos de direito, filosofia e retórica e conheceu o filósofo Sperone, que muito o influenciaria.
Em fins de 1565 entrou para o serviço do cardeal Luigi d'Este, em Ferrara, onde residiu, com alguns intervalos, por cerca de vinte anos. Em 1571 passou ao serviço do irmão do cardeal, Alfonso II, que muito o protegeu na corte de Ferrara, proporcionando-lhe um dos períodos mais tranqüilos de sua agitada existência.
Entre 1575 e 1576, Tasso esteve envolvido com a censura inquisitorial, o que, provavelmente, lançou as raízes do desequilíbrio mental a que depois viria a sucumbir. Esse desequilíbrio, agravado por frustrações eróticas e escrúpulos religiosos, provocou o delírio persecutório que determinou, em 1580, após severa crise, o seu internamento em um mosteiro de Ferrara, ficando-lhe proibidas quaisquer visitas.
Assim viveu o poeta, com períodos alternados de lucidez e alucinação, até ser liberado por Afonso II d'Este em 1586. Pouco depois, entretanto, já em Roma e sob a proteção papal, o estado de saúde de Tasso iria agravar-se de forma crítica, e o poeta mergulhou na loucura absoluta, à qual pouco sobreviveu.
O último grande clássico
Em sua primeira obra, o poema "Rinaldo" (1562), Tasso procura dar unidade estilística ao material confuso da literatura de cavalaria através da centralização da narrativa em um único herói e da ênfase sobre os aspectos solenes da ação épica. Ainda que obra imatura, o "Rinaldo" é importante para a compreensão da gênese e do desenvolvimento ulterior das epopéias de Tasso.Escrita em 1573, a comédia pastoril "Aminta" é superior a "Rinaldo". Com seu sensualismo renascentista e sua atmosfera idílica, "Aminta" é uma das obras-primas do gênero. Nessa obra, Tasso é, sobretudo, um poeta da melancolia, da nostalgia do idílio perdido, dos instintos recalcados pela austeridade moral da Contra-Reforma.
Com "Jerusalém Libertada" (1581), Tasso ascende à categoria de um dos mais célebres poetas de toda a literatura universal, o "último grande clássico", cujo triste destino foi lamentado por Goethe na tragédia "Torquato Tasso" e por lorde Byron no poema "O lamento de Tasso".
Comparado a Homero, Virgílio e Dante, Tasso foi, também, o último grande poeta italiano a exercer influência sobre a Europa inteira. A musicalidade do verso e o sensualismo das descrições são admiráveis. Mas a crítica moderna também aponta certos convencionalismos e a grandiloqüência, características essas, aliás, inerentes à estrutura da grande epopéia heróica e sacra do século 17, que paga tributo à "Jerusalém libertada".
Ainda que cultor de um gênero virtualmente extinto na atualidade, Tasso sobrevive porque o substrato poético de sua obra é, em essência, de natureza lírico-musical, o que vale dizer: antiépico. Muitos episódios de sua obra são momentos de intenso e comovente lirismo.
Tasso deixou várias outras obras, entre elas, uma segunda coletânea de "Rimas" e a comédia "Intrigas de amor", de autoria controversa. Tais obras, como as anteriores, revelam sobretudo o alto lirismo e a melancolia noturna do autor. A nostalgia romântica e as implicações teológicas da poesia de Tasso correspondem, a rigor, à agonia do universo de beleza criado pelo sensualismo dionisíaco do Renascimento, já então corroído pela reação contra-reformista.
La Gerusalemme liberata (Jerusalém libertada) é um poema épico escrito pelo poeta italiano do final do Renascimento, Torquato Tasso (1544–1595). Escrito em estrofes de oito linhas comuns à poesia renascentista italiana, a obra-prima de Tasso é conhecida pela beleza de sua linguagem, expressões profundas de emoção e a preocupação com a precisão histórica. O tema do poema é a Primeira cruzada de 1096 a 1099 e a busca do cavaleiro franco Godofredo de Bulhão para liberar o sepulcro de Jesus Cristo.
VIDA DA MINHA VIDA
Vida da minha vida,
Tu me pareces azeitona pálida,
Ou bem uma rosa esquálida,
Mas de beleza és diva,
E em qualquer modo sempre me és querida,
Ou anelante, ou esquiva;
E quer fujas, quer sigas,
Suavemente me destróis e obrigas.
Tu me pareces azeitona pálida,
Ou bem uma rosa esquálida,
Mas de beleza és diva,
E em qualquer modo sempre me és querida,
Ou anelante, ou esquiva;
E quer fujas, quer sigas,
Suavemente me destróis e obrigas.
Torquato Tasso
" O que o mundo chama de mérito e valor / são ídolos que
têm apenas nome, mas nenhuma essência. / A fama que vos encanta, vós
altivos mortais, / com um doce som, e que parece tão bela / é um eco, um
sonho, melhor que um sonho, uma sombra, / que a cada sopro de vento se
dispersa e desaparece".
Torquato Tasso
"O sono é o doce consolador dos homens. Dá-lhes repouso e o esquecimento de seus pesares."
Torquato Tasso
Este é um trecho do Canto II de Jerusalém libertada, de Torquato Tasso, traduzido por José Ramos Coelho e publicado pela Topbooks.
Já a fogueira preparada estava,
e incitavam a chama adormecida,
quando por modo tal se lamentava
Olindo à que com ele foi unida:
“É este o laço pois que eu esperava
que nos ligasse em fortunosa vida?
É este o fogo casto dos amores,
que eu julgava nos desse iguais ardores?
Outro fogo, outros laços nos prepara,
não os de amor promessa, a iníqua sorte.
Tanto nos separou dantes avara!
Tanto, cruel, nos casa hoje na morte!
Ao menos, já que te condena, ó cara,
a tão estranho fim, sou teu consorte,
se não no leito, na fogueira; o fado
teu só choro; feliz morro a teu lado.
Oh! Fora a morte vezes mil ditosa,
e o meu martírio eu por fortuna houvera,
se, juntos peito a peito, a jubilosa
alma nos lábios teus deixar pudera!
E se, morrendo juntos, ó formosa,
teu último suspiro eu recebera!”
Tal chorando se exprime; e respondendo
ela meiga o aconselha, e vai dizendo:
“Outro pensar, amigo, outros lamentos
a ocasião mais elevados pede.
Põe nos pecados teus os pensamentos,
e no prêmio que Deus aos bons concede;
sofre em Seu nome; e doces os tormentos
serão; aspira à sempiterna sede;
olha o céu como é belo; o sol que é vida,
que nos consola e à glória nos convida.”
Nos olhos do infiel borbulha o pranto;
chora o cristão; porém a voz comprime;
um desusado, não sabido encanto
até mesmo no rei brandura imprime.
De o conhecer se indigna; arreda entanto
o olhar; mas teima em lhe assacar o crime.
Tu somente, de todos pranteada,
não pranteias, Sofrônia, conformada.
Enciclopédia Mirador Internacional