DÁDIVAS DE LUZ
Antes que as palavras
pudessem servir de conforto
uma definitiva amargura
dissipá-las-ia
- Ninguém apreende
o que está além de si
nem como
na mão quente
que lhe sustém o pensamento
o gérmen seu irmão
mata instantaneamente
Sempre
além da fala
e da cópula
há a guerra
e a morte
O criminoso
sobrevive à vítima
para se tornar
um homem tranquilo
Nenhum homem é
em si próprio
o inocente
que supõe ser
Há sempre
a guerra
o insignificante
reduzindo a lixo o essencial
o incêndio submerso
em densas espirais
e o desenho diluindo-se
sem o divisarmos
com a plenitude final
já à vista
Não há seres
interiores ou exteriores
só o frenesim dos anseios
bruxuleando
ao longo dos corredores
pelas infindáveis trevas
Na luz
não há coração
só a degradação
e a dissipação
da sempre mesma luz
Sempre
a guerras prestes a eclodir
toda a luz
desaparece de repente
todo o pensamento
se esvazia
Não há
primeiros nem últimos
só o amargo fim
(de Dádivas de Luz, tradução de António Ramos Rosa, editorial Caminho, 1992 - Caminho da Poesia)
Pacific Grove
In the meadowssharks
in the wells
antelopes
in the sky
peelings
of wet oranges
and windows
the windows
blue winds
sharpen
eye lapsing
breath battling
in the hills
gone
Pinch-hitting
“Nothing you dobecomes you” —
but I with decades
of living it up
believe you that true
should always win
while I still being here-
and-there in the game
to go on tying the score
with short hits and runs
add sure — hoping
that’ll do in a pinch
To Infinite Eternity
IDeath is closer
to infinite eternity
than life is
and each life closer
to each least breath
than the blankness of
infinite eternity itself
II
To think blankness
rouses certain terror
and in the feeling
the sudden sense
of self responding
down to the smallest
unaided particle
of its existence
as answer to
the blankness of
sure nonexistence
III
Then infinite eternity
may be the opposite
of felt existence
durable as any
measurably
felt time
IV
I say hello
to myself
and to break
the terror
of nonexistence
I restore my self
to existence whatever
the consequence