sábado, 19 de setembro de 2009

ANA ARRUDA CALLADO LANÇA O LIVRO : LYGIA, A RECORDISTA

A Editora Batel lança o livro LYGIA, A RECORDISTA, um esboço biográfico de Lygia Lessa Bastos, feito pela jornalista e escritora Ana Arruda Callado. O lançamento será no dia 29 de setembroo, às 18h, no Café Lamas.

Um esboço biográfico


Apresentando Lygia


A idéia de escrever um livro sobre Lygia Maria Lessa Bastos jamais me ocorreria há 40, 30, 20 anos. Mas, quando, em 1998, estava preparando a biografia de Adalgisa Nery (publicada no ano seguinte na coleção Perfis do Rio, da Secretaria de Cultura da cidade), meu amigo Reinaldo Barros, que havia sido assessor de Adalgisa e que me deu então excelentes dicas, sugeriu: “Ana, você deve entrevistar Lygia Lessa Bastos; ela foi amiga de Adalgisa”.

Fiquei espantadíssima. “Aquela udenista, reacionária, com ar de general, amiga de Adalgisa, que foi do PTB e do PSB, poetisa?” Reinaldo riu da minha reação e argumentou: “Acho agora mais importante ainda você falar com Lygia e conhecê-la. Vai ver que imagem equivocada tem dela, uma pessoa interessantíssima, adorável”.

Confiava nos julgamentos do amigo e decidi que era mesmo hora de rever mais alguns preconceitos. (Sim, porque a gente fica a vida inteira combatendo os preconceitos, muitos, aliás, que acredita não ter.) E liguei para “a fera”. Muito amável, ela concordou logo com a entrevista e, já no primeiro encontro, verifiquei o quanto Lygia era coerente e valorizava a justiça. Depois de mais algumas conversas, pensei: “Por que eu nutria tanta antipatia por uma pessoa tão justa? Justiça não é, das qualidades humanas, uma das que mais prezo?” E por aí foi.

Lygia ajudou muito no desenho do retrato de Adalgisa e a cada encontro nosso eu ia descobrindo novas qualidades nela: a coerência, a fidelidade partidária, só rompida pela fidelidade aos princípios, a firmeza mas não teimosia, pois sabe voltar atrás quando convencida, a preocupação permanente com a educação e com a defesa das mulheres. Pronto o livro de Adalgisa, adotei-a como amiga.

A idéia de registrar sua trajetória política veio bem depois. Lygia me contava episódios de sua vida de vereadora, de constituinte, de deputada, me falava do pai, do avô. Mas foi quando a descobri, além de recordista em mandatos parlamentares, pioneira nos esportes e amiga das artes e de artistas, que me dei conta da história que tinha nas mãos. Propus escrever esta história e ela aceitou, depois de confessar que há algum tempo começara a ditar suas memórias em gravador, mas que parara porque lhe veio a preocupação de não ferir ninguém e, por isso, preferia que outra pessoa escrevesse sobre ela, seus afetos e desafetos.

Não me passou as notas já ditadas. Mas me passou muitos documentos, me deu o prazer de inúmeras conversas no restaurante Lamas, me apresentou à família – uma família bem heterogênea, mas unida e orgulhosa dela, que abdicou da indicação pelo Congresso para ser representante do Brasil na ONU porque veio de Brasília para cuidar de uma irmã hospitalizada no Rio e que telefona todos os dias para os três irmãos para dizer que está bem, pois mora sozinha e sai muito.

Aos 89 anos, não para: vai a bingos e shows beneficentes ou de artistas que estão menos valorizados pelo mercado, cultiva os amigos, ajuda os que estão em dificuldades, acompanha o teatro e a música que se produz no Rio de Janeiro.

Parlamentar durante 36 anos, mora em pequeno apartamento no Catete, se veste com simplicidade, não impõe suas opiniões e está sempre de bom humor. De paz com sua consciência e com a vida. Mas não está esquecida. Quando o Tribunal Superior Eleitoral, em seu site oficial sobre as eleições de 2008, exibiu a ficha da candidata a vereadora da cidade de São Paulo, Maria Teresa (PMDB - 15369), podia-se ler, no item "Político favorito" o nome de Lygia Lessa Bastos.

Valeu a pena vencer alguns preconceitos, desvendá-la e, espero, fazê-la mais conhecida das novas gerações.

Ana Arruda Callado

1ª. orelha

“No Pacaembu, o jogo foi Cariocas contra Paulistas, primeiro
as mulheres e depois os homens. Eu era capitã do time
do Tijuca, que representou o Rio. Léo Daltro dos Santos era
o técnico da equipe feminina e Melo Júnior, do Jornal dos
Sports, foi quem nos deu muita força. As paulistas seguiam
regra diferente e nós tivemos que nos adaptar. Aqui no Rio
era proibido tocar no corpo uma da outra; esbarrar era falta.
Em São Paulo, não. E lá as moças treinavam de igual para
igual com os homens; estavam mais adiantadas. Perdemos,
mas a primeira cesta do jogo foi minha; levei a maior vaia”,
conta, rindo.


“Tudo que eu fazia, nos meus quase quarenta anos de
mandatos parlamentares, era combinado com meu pai; depois
que ele morreu, pensava sempre no que ele me diria antes
de decidir qualquer coisa. Só discordamos uma vez: quando
atirei o microfone na mesa diretora da Câmara, ele foi contra.
Eu tinha falado, sozinha, por horas, tentando impedir uma
votação de aumento de impostos. Quando vi que não iria
convencer ninguém, pois estavam todos em seus gabinetes
esperando o presidente chamar para a votação, atirei o microfone,
na tentativa de suspender a sessão. Mas o presidente
fez que não viu e convocou logo a votação. Fui para casa
e esperei três dias pela publicação do fato no Diário Oficial
— papai sem falar comigo. Os jornais publicaram tudo, mas
nada aconteceu; só que o presidente da Assembleia foi nomeado
ministro do Tribunal de Contas.”

As duas passagens acima exemplificam bem a extraordinária trajetória de Lygia Maria Lessa Bastos, tão bem retratada por Ana Arruda Callado.

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